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Arte da JAM no MAM Arte da JAM no MAM

Bate papo sobre música, improvisações e, claro, JAM no MAM! 

Quem frequenta a JAM já sabe: Paulo Mutti é guitarrista da Banda Base! Vindo de uma cidade com tradição musical, Santo Amaro da Purificação, ele teve seu primeiro contato com a música através de seus pais e, fora da JAM, atua também como violonista, arranjador e professor. Nessa entrevista, ficamos conhecendo um pouco mais sobre seu ponto de vista musical, num bate papo sobre a dinâmica estabelecida entre os músicos que tocam na JAM.

O que é mais difícil de organizar na JAM?
A dinâmica das canjas, com certeza. O entra e sai dos músicos convidados é o grande momento da JAM, e por isso mesmo é muito complexo. Ali você tem que administrar os anseios de cada um e criar o ambiente mais adequado e confortável possível para o solista se sentir à vontade, e ao mesmo tempo tentar não desfalcar a Banda Base, que tem um ritmo de jogo adquirido por anos de entrosamento e prática em conjunto. É importante “dirigir” os músicos de fora que querem tocar, para que a música funcione e todos possam interagir e criar um show honesto e espontâneo.

Você sempre volta pra casa feliz com o resultado musical da noite?

A música improvisada, espontânea, é a música do momento presente, e se você não estiver conectado com o momento ou não estiver se sentindo bem enquanto ser humano, tudo pode desandar. Tudo ali depende do quão fisicamente/espiritualmente você está envolvido, e isso vai interferir tanto no sucesso, quanto no fracasso de sua performance. Mas esse jogo é muito gostoso, dá ao artista da improvisação uma ligação muito intrínseca com o que ele faz ou vive naquele momento, e isso é mágico.

De que maneira o público interfere no desempenho de vocês?
O público é fundamental para que a performance seja plena, é uma troca. Por mais que nos dediquemos num caminho muito solitário de estudos, já que o músico se encontra muitas vezes isolado, estudando muito,  para que aquele momento se dê de forma completa, o que as pessoas recebem de nós e nos dedicam de volta é o que transforma tudo! O que era dedicação solitária se transforma em uma construção coletiva, e isso transforma a realidade de quem emite o som e de quem recebe este som e manda de volta em energia, com aplausos, sorrisos, comentários e criticas... E isso nos faz crescer a todos, artistas e espectadores.

Dá pra sentir quando a JAM está agradando?

Modéstia a parte, a JAM está sempre agradando. Ela é, em si, um momento especial na dinâmica da cidade de Salvador.  Um sopro, um alento. Não desmerecendo as outras formas de criação musical desta terra, elas são maravilhosas e nos representam muito bem, mas a gente não pode comer a mesma coisa todos os dias, ninguém aguenta. Fora que é um espaço democrático para que músicos profissionais, ou, pelo menos, atentos, se expressem, se encontrem com os colegas, socializem e mandem energia na música. A JAM no MAM é puro Axé, no sentido mais completo que esta palavra abarca.

Qual a música mais tocada na JAM? Por quê?
Pra mim, não existe uma música mais tocada, mas sim, uma forma de música. A forma “Blues”, que caracteriza diversos estilos dentro da escola do jazz. Isso se dá porque é o caminho lógico do estudante de improvisação jazzística, e o autor campeão nessa forma/linguagem é Miles Davis. Acredito que haja um compositor mais tocado e não uma música. Miles foi o maior colaborador de todas as transformações no mundo do jazz e isso faz com que ele esteja presente com mais frequência no repertório. Isso sem falar de Jobim, é claro.

Quando uma participação não "encaixa" com a Banda, o que fazer?
A melhor solução para mim é encurtar os solos, o número de solistas e pedir com jeitinho para que o músico se afaste do palco. E, se ele nos permitir, se nos der o espaço e se sentir a vontade para ouvir, cabe a nós orientá-lo para, caso em outra oportunidade ele venha mais preparado. Não é qualquer tipo de músico que se encaixa bem com a JAM. Por exemplo: Chico Cezar e Elza Soares funcionaram muito bem. Não são músicos de jazz, mas são artistas experientes que lidam bem com as questões que envolvem a improvisação, e isso pode não acontecer com alguém que só ouve um tipo de música, por exemplo.

Cite um momento de destaque da JAM este ano.

Fica difícil escolher um momento agora, mas meus momentos preferidos são os encontros inusitados com músicos de outros países. É sempre imprevisível. Mas um dos grandes momentos recentes na JAM para mim foi o encontro da Banda Base com a Osba. Foi muito empolgante tantos músicos juntos num espaço tão privilegiado que é o MAM. Vida longa a JAM no MAM!


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