Uma noite em que Moacir Santos vibrou na JAM no MAM
Ancestralidade e improviso marcaram a JAM no MAM de 29 de novembro, que celebrou o legado do mestre Moacir Santos e encerrou o ciclo de transmissões ao vivo das nossas jam sessions esse ano.

Sim, foi uma homenagem vibrante ao músico pernambuano, cuja obra influenciou – e continua influenciando – várias gerações de artistas no Brasil e no mundo. Com o pôr do sol da Baía de Todos-os-Santos, a noite começou como um tributo que fez da JAM um encontro de música, reverência e memória.
A banda anfitriã Geleia Solar, conhecida por sua habilidade de transformar partituras em território de risco criativo, iniciou a noite revisitando faixas do álbum “Ouro Negro” (2001) — marco que reintroduziu Moacir Santos ao grande público brasileiro e revelou a sofisticação de sua escrita, pontuada por síncopes africanas, harmonias jazzísticas e uma profunda consciência rítmica.

As primeiras notas de “Coisa nº 1”, parceria do maestro com Clóvis Mello, deixaram claro o clima da apresentação: rigor musical, intensidade e liberdade. Em seguida, vieram faixas como “Maracatu, Nação do Amor (April Child)”, “Coisa nº 4”, “Nanã” e “Se você disser que sim”, que ganharam novas camadas com solos inspirados.
Mas o repertório da noite também abriu portas para outros compositores. A delicada interpretação de “Samba e Amor” (Chico Buarque) ampliou o horizonte poético, enquanto clássicos da música brasileira como “Wave” (Tom Jobim) ganharam brilho especial com a participação do trompetista norte-americano Graham Haynes.

Outro momento marcante veio com “Vera Cruz”, de Milton Nascimento e Márcio Borges, que evocou a sonoridade característica do Clube da Esquina.
Uma Geleia Solar robusta
A banda Geleia Solar estava formada por Ivan Bastos no baixo, Ivan Huol na bateria, Vanessa Melo no clarinete, Paulo Mutti e Tarcísio Santos na guitarra, Eduane Rudah na percussão, André Becker no sax alto e flauta, Rowney Scott no sax soprano e tenor, Caio Ferreira no teclado, Rosa Denise no trombone, Fernando Miranda no trompete e flugelhorn, e Angela Velloso na voz.
Uma lindeza de banda que, depois de algum tempo, recebeu a participação de músicos e músicas instigados pela vibração coletiva. Essa nova turma subiu no palco espontaneamente para tocar e, entre diálogos improvisados, riffs inesperados e conversas musicais atravessadas por diversas linguagens, a JAM reafirmou sua vocação: existe ali um território de experimentação permanente, onde a tradição se mistura ao risco e onde cada encontro é único.

Transmissão ao vivo e registros da noite
A transmissão — que encerrou o ciclo de lives de 2024 — teve direção de João Tatu e continua disponível no canal da JAM no YouTube. A performance aconteceu diretamente da Praça Maestro Letieres Leite, área externa do Museu de Arte Moderna da Bahia (Solar do Unhão), um dos cenários mais emblemáticos da capital baiana.
Antes de encerrar a transmissão, Ivan Huol anunciou a próxima edição: 13 de dezembro, com uma JAM dedicada ao jazz latino, misturado a ritmos afro-cubanos e baianos. Os ingressos para o público já estão disponíveis na plataforma Ingresse.com.
A Temporada JAM e Petrobras 2025 conta com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, através do Ministério da Cultura e da Lei de Incentivo à Cultura, além do apoio institucional do IPAC e do Museu de Arte Moderna da Bahia.
A fotógrafa Lígia Rizério registrou os momentos mais intensos da JAM. Confira abaixo nossa galeria especial que resgata a atmosfera vibrante dessa edição “Ouro Negro”: