Leia entrevista tripla sobre o lançamento!
No próximo dia 13 de setembro, data em que será comemorado o aniversário de 15 anos da JAM no MAM, será lançado em Salvador o DVD “Na Base do Solo”, que chega ao público acompanhado do álbum “JAM no MAM 2013-2014”.
O lançamento será realizado a partir das 18h na própria JAM no MAM, na área externa do Museu de Arte Moderna da Bahia. O novo trabalho conta com patrocínio da Oi e do Governo da Bahia, através do Programa Estadual de Fomento à Cultura – Fazcultura, além de apoio cultural do Oi Futuro. Este será o terceiro DVD da JAM a contar com o apoio do Programa Oi de Patrocínios Culturais Incentivados.
O DVD “Na Base do Solo” é um documentário dirigido por Sofia Federico e Marcos Povoas que revela um aspecto peculiar do projeto: o de contribuir na formação de músicos, sobretudo na arte da música instrumental improvisada. Traz depoimentos de jovens músicos baianos que, em comum, trazem em suas histórias o fato de terem dado seus primeiros passos no jazz – e na música instrumental improvisada – durante as sessões da JAM no MAM. Já o álbum “JAM no MAM 2013-2014” oferece seis faixas – cinco delas autorais, compostas por músicos que frequentam a JAM: Ivan Bastos, Ivan Huol, Wadson Calasans e Letieres Leite.
O primeiro DVD da JAM no MAM foi lançado em abril de 2012. Dirigido pelo videoartista Flávio Lopes e o cineasta Fábio Rocha, traz o documentário “Varanda”, ressignificando a melodia e os ritmos do lugar de origem da JAM para falar da sua própria história e do seu começo. Taz também três faixas gravadas durante as sessões da JAM: “Donatiando”, de Ivan Huol, “Erê Alabê”, de Ivan Bastos, e “Jamnomam”, de Paulinho Andrade. O segundo DVD chama-se “Improvisação” e foi lançado em 2013. Nele, músicos que viveram a efervescência da música instrumental de Salvador dos anos 1970/80, como Sérgio Souto, Paulinho Andrade, Luciano Chaves e Ivan Bastos, falam sobre a importância da JAM no MAM como espaço dedicado a artistas que gostam de improvisar.
Nessa entrevista para o site da JAM no MAM, a diretora Sofia Federico, o músico Ivan Huol e a produtora Cacilda Povoas falam um pouco do material que está chegando agora ao mercado:
De que fala esse novo trabalho?
Sofia Federico dirige o novo trabalho, ao lado de Marcos Povoas. Foto Lígia Rizério.
Sofia Federico – Esse trabalho revela um aspecto peculiar do projeto JAM no MAM: o de contribuir na formação de músicos, sobretudo na arte da música instrumental improvisada. A JAM no MAM é, fundamentalmente, um projeto de difusão e um espaço voltado à prática do improviso. Creio que esses aspectos do projeto foram contemplados nos últimos documentários. O interessante do novo doc é que ele traz à tona uma marca forte da JAM, que é formar artistas para a linguagem da música instrumental improvisada. Esse é um papel relevante que o projeto vem cumprindo ao longo da sua existência e que muitas vezes fica velado. O doc agora vai expor isso.
Cacilda Povoas – Eu diria que o primeiro documentário, “Varanda”, que teve direção de Flávio Lopes e Fábio Rocha, aborda a História da JAM no MAM e um pouco da história do Solar do Unhão. Esse primeiro trabalho era composto de dois DVDs e trazia esse documentário e três vídeos, gravados ao vivo na JAM no MAM com as músicas “Donatiando”, de Ivan Huol, “JAM no MAM”, de Paulinho Andrade e “Erê Alabê”, de Ivan Bastos. Tinha também vídeos curtos de solos dos músicos e fotos da JAM no MAM feitas por Márcio Lima. O segundo, “Improvisação”, era composto de um DVD e um CD; foi o público quem pediu o CD, por isso acho que acabou logo... No CD tem seis músicas: “Donatiando”, de Ivan Huol, “JAM no MAM”, de Paulinho Andrade, “Erê Alabê”, de Ivan Bastos, “Alaúde”, de Ivan Bastos, “Cariri Blues”, de Ivan Bastos, e “Patinete Rami-rami”, de Letieres Leite.
Qual é a importância da JAM no MAM para o mercado musical baiano?
Cacilda Povoas é produtora da Huol Criações. Ao lado de Ivan Huol, coordena a JAM no MAM há muitos anos. Foto Márcio Lima.
Cacilda Povoas – A JAM no MAM contribui para a formação de plateia para a música instrumental. Você vai à JAM seduzido pelo espaço, pelos amigos que estão lhe chamando e acaba ouvindo um tipo de música que não toca com frequência nas rádios e na TV. Além disso, acredito que JAM oferece a oportunidade aos artistas desse segmento de praticar a sua arte e difundir o seu trabalho de instrumentista e de compositor.
Ivan Huol – A JAM dá status à arte de improvisar e ao improvisador. Todos que vão lá, músicos e público, sabem que o improviso é o que conta. O músico sabe que vai encontrar uma grande quantidade de pessoas atentas à sua performance, mais do que em qualquer outro espaço. E digo mais: fazer jazz para mais de mil pessoas é para poucos no mundo! Assim a responsabilidade aumenta. A experiência musical da nossa banda base também exige da canja um padrão mais alto, ou seja, o artista tem que saber improvisar. Não adianta "inventar"; tem que criar. Existe um tema, uma harmonia e um ritmo a seguir, e, via de regra, tocados de maneira firme e correta. Para o público, fica o prazer de assistir a performances livres e sólidas, que fogem ao estereótipo de um jazz chato, frio e impessoal. Hoje, quando vou a um grande espetáculo internacional, sinto que a plateia diz: "Mande aí seu solo que a gente está ligado". Pelo menos é essa a experiência que tive quando fui ao TCA ver Bobby Macferrin, Speranza Spalding...
Em que esse novo DVD pode contribuir nesse processo?
Ivan Huol – Na medida em que aproxima o público do processo de criação das fundações (bases) para se tornar um músico improvisador, revelando como se dá o processo criativo dos solos, solistas, seus conflitos, anseios e resultados.
Que histórias abordadas nesse trabalho chamam mais atenção?
Sofia Federico – Todas as histórias são interessantes, se complementam. Chama muito atenção o caminho peculiar que cada um traçou e vem traçando na construção de uma carreira na área. É legal conhecer o percurso desses músicos, o despertar para a música, a busca por formação e aperfeiçoamento. São pessoas diferentes, com histórias distintas, alguns do interior do estado, mas com desafios, em essência, semelhantes.
Ivan Huol – Gosto do relato de Arturzinho, aliás, me identifico muito com sua história. Também sofri muito na minha trajetória, mas acredito que consegui livrá-lo da "maldade" com que se tratam os neófitos!
Capa do novo DVD da JAM, com arte de Rex Leal.
Como foi feita a escolha dos entrevistados. O que eles têm em comum?
Sofia Federico – Os músicos são jovens, de uma nova geração. Todos, de alguma maneira, reconhecem o quanto a JAM foi e vem sendo importante para a formação profissional e artística deles. O que eles têm em comum é principalmente o desejo de se expressar por meio da linguagem da música instrumental improvisada. Muitos tiveram acesso a esse tipo de gênero musical através da JAM. Muitos afirmam que a primeira vez que tiveram contato com o jazz foi na JAM. Isso só vem reafirmar a importância da JAM como um projeto também de formação.
Conteúdo X Estética. Que é priorizado na hora de filmar um trabalho como esse?
Sofia Federico – O documentário sintetiza a fusão desses elementos, ou seja, forma e conteúdo se entrelaçam para contar diversas histórias que acabam desaguando num só lugar: na JAM no MAM. Na minha opinião, sem dúvida, o destaque acaba sendo mesmo as histórias contadas pelos músicos entrevistados. São histórias de vida e nesses relatos a JAM se faz presente de forma relevante.
O olhar de vocês vem amadurecendo em relação à JAM. O que muda na linguagem desse DVD? Qual a relação deles com o DVD Improvisação e com o programa Jazz na Madrugada (produzido pela Huol Criações e exibido na TVE e portal Irdeb)?
Sofia Federico – Com relação à linguagem e narrativa, é importante dizer que o documentário segue uma linha tradicional, baseado em entrevistas e registros documentais. Com relação ao documentário anterior, creio que permanece bastante presente o tema da improvisação. Fragmentos do programa Jazz na Madrugada estão contidos no novo doc, como recurso narrativo.
Ivan Huol – Esse é o nosso documentário mais resolvido tecnicamente. O próprio amadurecimento e dedicação da equipe ficam claros – muito, creio eu, por conta do Jazz na Madrugada. Ouve uma sintonia em todas as etapas da construção do doc: locações, seleção dos entrevistados, som direto... Resultado: Está lindo!
Mais uma vez, a música e os músicos são as estrelas. Quando o público será o destaque?
Sofia Federico – Creio que, de alguma maneira, o público acabou sendo abordado nesse documentário. Isso porque os músicos que dão depoimento no doc contam que frequentavam a JAM como público e assistiam às sessões. Somente depois de um tempo passaram a tocar na JAM. Ou seja, todos eram anônimos que frequentavam a plateia e depois passaram a frequentar o "palco". De todo modo, creio ser um bom tema a se explorar posteriormente.
O DVD “Improvisação” se esgotou. A que vocês creditam o sucesso de vendas?
Ivan Huol assina a direção artística do projeto JAM no MAM. Foto Lígia Rizério.
Ivan Huol – Acredito que seja uma mudança de postura do público, antes muito arisco e reticente a qualquer iniciativa extra às nossas performances. Hoje conseguimos uma cumplicidade maior de quem frequenta a JAM. Na JAM nossos processos são sempre lentos, mas perenes. Há, mais do que nunca, o entendimento de que se paga muito pouco pelo show e que comprar um produto JAM no MAM significa muito para eles e para nós também. Fora o fato de termos pela primeira vez CD e DVD num mesmo produto.
Qual será o destino desse trabalho? Existe alguma chance dele ser exibido na TV?
Ivan Huol – O “EMI” de melhor documentário! Especial de Música Improvisada! (risos)
* Após o lançamento, no dia 13 de setembro de 2014, o DVD “Na Base do Solo” (acompanhado do álbum “JAM no MAM 2013-2014”) será vendido nas sessões da JAM no MAM: Museu de Arte Moderna da Bahia (aos sábados, a partir das 18h) – Av. Contorno, s/n, Solar do Unhão. Tel. da produção JAM no MAM: 71. 3241-2983.
Encarte do CD “JAM no MAM 2013-2014”, que acompanha o DVD “Na Base do Solo”.